A vida é uma ilusão em movimento. Precisamos estar acordados para que ela
exista e tenha sentido.
Dormir à tarde não é uma coisa aconselhável para quem quer permanecer vivo, ou
pelo menos manter viva a ilusão de vida. O sono diurno paralisa as ações das
nossas ilusões cotidianas, quando pensamos em coisas importantes e inadiáveis.
Estamos sempre com pressa. Sempre preocupados com alguma coisa a fazer, a
comprar, pagar, dar, receber, dividir, partilhar ou negar.
A vida é essa ilusão psicodélica de que o mundo é um eterno parque de diversões
e perversões, de emoções alegres e apavorantes, como entrar na casa assombrada
das nossas lembranças ou descer a mil quilômetros por hora das nuvens onde
moram os nossos sonhos mais infantis.
A vida é essa ilusão desiludida, mas que aquece o nosso sangue e nos faz sentir
que estamos vivos, ainda que estejamos mortos na alma, na mente ou no coração.
Por isso é preciso estar acordado: não podemos dormir à tarde, se quisermos
manter viva a ilusão de que ainda estamos vivos nesse mundo de ilusão.
(Ruy Vale)
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